4.1.14

Olho-te e Vejo-te

Chove, choras tu, eu e o mundo, chove, chora o mundo de mim, o mundo de ti e o nosso mundo, chove.
Sinto-nos o fim menos distante, pois chove em nós granizo em abundância e mesmo assim permitimos que ele nos golpeie a alma e nos cause perturbações na harmonia dos nossos corpos, mas ainda assim consigo, não se dissipou: olho-te e vejo-te. No entanto é excessivo, continua a chover e a trovoada segue-a quase que em ritmos melodiosos, quase que criam uma rima ou uma dança que se envolve e viaja no vento, esquecendo-se e esquecendo-nos. Há escassez de paixão então, há chuva de lágrimas hoje e veio para ficar. Há sapatos que não ficam secos, estradas encharcadas da tua transparência e pequenas flores de inverno, aquelas que espreitam através do solo a medo, a flutuar no seu próprio respirar. No rebordo da luz: olho-te e vejo-te, contornando-a.
Foge fim que te aproximaste! Foge e leva contigo todo o temporal que não deixa as minhas pálpebras fecharem; elas pesam, elas estão encharcadas de ti, elas, pálpebras delicadas e com manchas em si, estão intumescidas e húmidas. Será que neste instante já só te olho?
Enfim, já se me rasgaram os trajes da minha alma, estou nua e em mim há fraqueza, há fraqueza que confesso e que confessei. Será que nos ira nevar um dia?
Júpiter