26.12.13

Coexistir em mim


Não existe amor em mim, para mim. Não que eu não seja, não que eu não queira, porque eu sou e eu quero, mas não existe.
Estou na rua, há noite, há luzes quebradas no rebordo da estrada, mau cheiro, corpos que se desfazem e refazem no vício, por si só, os lugares são então cheios de nada, espaços vazios, incumbidos ao vácuo e coexistem falas neste meio e almas que não encontram o corpo. Sei que há ainda olhos que me olham e apetecem, passos que não são dados e palavras que não são medidas. A rua chove, a rua chove e arrefece, encontra-me e aquece-me ò ser, porque simples é ser fora daqui, fora de mim.
Estou ainda na rua, pálpebras entreabertas pesam o meu rosto, rua aberta, sem fim, estanque em granizo entre os paralelos de uma cidade aguada, estou na rua, mas perdida em si, em mim portanto. Quero me fugir.

E se a rua for o meu ser? E se o meu ser for a rua? Se assim o for ou as pessoas me cansam ou me canso eu a mim própria. Talvez nos cansamos simplesmente aos dois. Cansamo-nos os dois, não um do outro, mas de nós mesmos um com o outro. Perdi-me assim o fascínio, mesmo sem nunca me o encontrar. 
Júpiter