Passas por mim como se fosse e como se fosse deixas-te em
mim, mas vais. Foi assim o nosso ontem.
Eu não tenho medo do instante instável que deixaste em mim,
mas gostaria que tivesses sido igual ao meu vento, igual às minhas marés que ringem
e quebram nos ouvidos cada vez que adormeço desnudada, incompleta pela tua
falta dos cinco sentidos, mas completa pela certeza do ápice que passo contigo em
sonhos reais de mim, afinal és completamente completo, sentiste-me como nunca
ninguém me sentiu.
Levemente consigo deixar-me consumir pelo incenso que
percorre a alma de quem me seduz, provei-o em ti, mas é na oposição do que é
leve que dela consigo sair, como se fosse, como se fosse aquele passarinho,
ali, empoleirado na copa da árvore, lá, no meio da floresta com cheiro a
eucalipto e a alfazema das roupas que por ali se deixou de bons e velhos
tempos, corpos juntos, crime cometido pelo desejo, afago protegido pelas
memórias; Como se fosse, como se fosse aquele passarinho que pela primeira vez
conseguiu deixar a copa e conhecer as nuvens.
Agora, consegues escutar? Sentir as novas ondas sonoras que
investi no vento para te facilitar o caminho até mim, consegues?
Então, como se fosse vem até ao regaço que possuías, para me
empoleirares os braços, como se fosse. Embala dentro de ti o tempo, sustem-no e
vem como se fosse ontem, vamos decidir o que o tempo já decidiu.
Júpiter