3.8.13

Como se fosse


Passas por mim como se fosse e como se fosse deixas-te em mim, mas vais. Foi assim o nosso ontem.
Eu não tenho medo do instante instável que deixaste em mim, mas gostaria que tivesses sido igual ao meu vento, igual às minhas marés que ringem e quebram nos ouvidos cada vez que adormeço desnudada, incompleta pela tua falta dos cinco sentidos, mas completa pela certeza do ápice que passo contigo em sonhos reais de mim, afinal és completamente completo, sentiste-me como nunca ninguém me sentiu.
Levemente consigo deixar-me consumir pelo incenso que percorre a alma de quem me seduz, provei-o em ti, mas é na oposição do que é leve que dela consigo sair, como se fosse, como se fosse aquele passarinho, ali, empoleirado na copa da árvore, lá, no meio da floresta com cheiro a eucalipto e a alfazema das roupas que por ali se deixou de bons e velhos tempos, corpos juntos, crime cometido pelo desejo, afago protegido pelas memórias; Como se fosse, como se fosse aquele passarinho que pela primeira vez conseguiu deixar a copa e conhecer as nuvens.
Agora, consegues escutar? Sentir as novas ondas sonoras que investi no vento para te facilitar o caminho até mim, consegues?
Então, como se fosse vem até ao regaço que possuías, para me empoleirares os braços, como se fosse. Embala dentro de ti o tempo, sustem-no e vem como se fosse ontem, vamos decidir o que o tempo já decidiu.

Júpiter