10.8.13

No café


No café já não são coisas, já nem gestos são.
De longe, a ele, absorvi-o na contingência do meu olhar e imaginei o lado esmero do que os meus olhos haviam vislumbrado á segundos atrás. O jornal já fora lido e relido mesmo sem os seus olhos se transporem sobre o mesmo, o relógio do seu pulso viloso andava e os ponteiros estavam parados e o café traçado com água ardente navegava-lhe pelo corpo como que degolando-o sobre si mesmo, mas antes houve a Empregada de Mesa e o instante.
Ela chegou com o seu pedido, café gelado traçado com água ardente e sem açúcar, houve um recuo e uma aproximação, houve moedas caídas sobre a mesa. Bebeu-o num só gole e pingos de suor esbarraram com o seu sapato canhoto, preto e envernizado, senti então a pressão que lhe estudava a alma e no estrepasse momentâneo de incandescências de segundo ouve-se a queda de um casaco e vê-se a Empregada de Mesa no solo a verter pingos asquerosos e acerejados. Ele esmurrará uma inocente e fugirá dela como que da sua própria noção de vida.
De longe, parei, já não me sabia o meu pedido, já nada me sabia, o seu interior apodrecerá, estava sem vida, perdera-se em emaranho de ruas, como ele.
Aqui contemplava-se os segundos e a noção deles era esquecida. 

Júpiter