20.3.13

Restauros de uma alma com corpo


Não consigo saber de mim já, recolho pedaços de minha alma como recolhendo peças de um puzzle velho e enfim, recatado, murcho, amarrotado, cedido a pequenos pontos de solidão…estou então ténue e límpida à fragilidade.
A caminho, no inconstante percurso, sentia os ossos contra a pele: menos uma peça de roupa e mais um passo, Inverno, percebam: o meu corpo quebrava. Descalça e quase sem roupa tentei imobilizar o martírio que estabeleci ao meu corpo, mais, fui torturar somente a alma, mas não deu, pois em tempos fui água que cobria este conjunto de carne, hoje, sou a mesma água, mas que ringe os seus olhos e tece o seu rosto, portanto, alma e corpo, carne e vulto, conjugam-se, completam-se, quando um desequilibra a sua natureza o outro já a perdeu. Nesse trilho, atravessando rotas intermináveis, manchadas com trajetos dobrados sobre a minha vida, a caminho, ascendi finalmente ao ponto pelo qual o meu coração já não bate, pelo qual nada haverá a presentear-me senão a miséria de ser: descobri que é possível ter saudades de mim.
Retratada num mar de recantos por ti já não sofro, nem por ninguém, admito pois que ando em vivências de admiração do meu ser, em amarguras de mim, ando desmembrando-me? Não sei, sinto-me sem me sentir, é como se me sentisse necessidade de restaurar perdendo-me entre alma e corpo, carne e vulto.
Caí, a caminho, em colo de flores de uma natureza morta, caí e pesa-me a alma só de deixar o grito mudo sobre o natural, pois esse grito em mim é visto como força que não morre, que se aprimora. Esgotaram-se-me os limites de mim: gritei. Tudo o que eu preciso é feito de nada, de momento e ao que me parece já não me pareço. 
Júpiter