A caminho, no inconstante percurso, sentia os ossos contra a
pele: menos uma peça de roupa e mais um passo, Inverno, percebam: o meu corpo
quebrava. Descalça e quase sem roupa tentei imobilizar o martírio que
estabeleci ao meu corpo, mais, fui torturar somente a alma, mas não deu, pois em
tempos fui água que cobria este conjunto de carne, hoje, sou a mesma água, mas
que ringe os seus olhos e tece o seu rosto, portanto, alma e corpo, carne e
vulto, conjugam-se, completam-se, quando um desequilibra a sua natureza o outro
já a perdeu. Nesse trilho, atravessando rotas intermináveis, manchadas com trajetos dobrados sobre a minha vida, a caminho, ascendi finalmente ao ponto
pelo qual o meu coração já não bate, pelo qual nada haverá a presentear-me
senão a miséria de ser: descobri que é possível ter saudades de mim.
Retratada num mar de recantos por ti já não sofro, nem por
ninguém, admito pois que ando em vivências de admiração do meu ser, em amarguras
de mim, ando desmembrando-me? Não sei, sinto-me sem me sentir, é como se me sentisse
necessidade de restaurar perdendo-me entre alma e corpo, carne e vulto.
Caí, a caminho, em colo de flores de uma natureza morta, caí
e pesa-me a alma só de deixar o grito mudo sobre o natural, pois esse grito em
mim é visto como força que não morre, que se aprimora. Esgotaram-se-me os
limites de mim: gritei. Tudo o que eu preciso é feito de nada, de momento e ao
que me parece já não me pareço.
Júpiter