17.3.13

A carta que nunca leste


Transpareceste-me. Sinto-te o tilintar.
Tento brilhar em ti, não deixas, não há acesso. Sê. Por favor sê doce para mim, pelo menos enquanto o meu querer por ti permanecer.
Eu sei que não sabes quem és, mas eu lembro-me de ti como se nunca me fosses esquecido, nem mesmo naquele passado em que nunca vislumbrara o brilho cego que te percorre o olhar. Sei que se empoleirasses essa poeira, que quebra a definição da cor da tua iris, por estas palavras carentes vais pensar que a ti é impossível ser dirigido ou então nem vais ter coragem para estrear a sua negação. Vais deslembra-las. Como a mim?
Sei que não estas aí. Sei que esta tua sumição que sinto, na verdade, é somente de ti para mim. Sei que posso confessar que por ti fui, sou, que mesmo assim o mais importante serão os ponteiros do teu relógio luto que te aperta as veias contra a pele ou mesmo a chuva que cai aos nossos pés na manha bruma quando julgo ser abraçada por quem apenas sorri para mim.
Que horas são? Eu não sei, na verdade estou perdida no tédio emanado do teu horizonte, aquele que me aquece gelidamente. Tenho que aclarar o meu coração e avisar como o suporto à minha mente.
Não, não encares o relógio. Fica e por cinco segundos sê serio em mim e olha para a bússola, aquela que nos dirige a vida, a que esta bem na palma da minha mão, esperando por ti. Encontrou-te. Deixa, deixa ela dizer-to: Há quem a perca, há quem se deixe perder. Acho que a perdeste sem saber que o sucedido se deu, mas também que falta de pensamento, isso nem te importa. Mas peso, peso de dor por naquela distância de tempo a teres deixado envolver-se em teu sorriso, sorriso, hoje, falso nela.
Agora, agora sim, podes deixar a doçura fraquejar no pôr-do-sol que um dia em ti quis brilhar, porque eu sei, eu sei que sempre terás revinda, sinto-te o cheiro, sinto-me a querer-te novamente e tu a tomares parte de mim, o pior é que o fazes em relação aos teus apetites e esqueces os meus.
 Sinto-te o tilintar, sinto-me a tilintar.
Júpiter