Pelo sabor do Outono anseio-te ainda mais, é como se te
quisesse a percorrer a ventosa cloral que se dilui no meu corpo cada vez que o
toca. Sim, a ti, tu que não existes.
Ouço o relógio da rua despertar do seu sono com duas leves
pancadas e o mau humor matinal acercasse, efeito de uma diminuição de horas,
talvez. Limpo as remelas e olho a janela já desfocada: folhas em quedas, os
pássaros desaparecem deixando apenas de si os dejectos nas telhas das casas, folhas
em quedas, os sapatos dos cavalheiros deixam sons estaladiços encurtar o
sossego, folhas em quedas, o meu olhar elevado contempla já o cinzento, folhas
em quedas, avistasse as primeiras botas de senhora, formosas diria, folhas em
quedas, os ventos, as chuvas…
Amanhecer já se faz tarde e por ele o Sol escureceu.
Epicamente e sem modos rigorosos escolho o vermelho, coloco o gorro e deixo por
trás de mim morrer-me o figo do pequeno-almoço, sigo em frente, bato a porta
e aceito o coração Humano, aceito que também preciso de ti, meu amor desconhecido?
Ao contrário de ti, sempre te quis, senão, sendo tu inculto perante os meus
presos sentimentos, não te culpo…
Passa tempo entre nós e por nós, aquilo que eu sei e aquilo
que eu não sei, passa, pois passa. Eu não espero que chegues nesse tempo, sei
que a tua existência morre no momento em que penso em ti, mas deixa-me
imaginar-te por lá, isso já me deixa sobreviver.
A manhã já começou a ter fim, os carros, numa azáfama costumeira
do dia-a-dia, molham as pessoas na berma que procuram um lugar para almoçar e a
minha caminhada foi interrompida por um banco de jardim, lá me sentei e lá
beneficiei de um amarelecer da paisagem de Verão.
Finge-te então e deixa-me sentir, só uma vez, só um minuto, que
não estou só, sentada, num banco embevecido em lembranças dos outros, com
espaço, separada do mundo por mil ventos, sem ti e a procura de mim.