Lua, doce, pelo menos para ti, eu fui; Oh! Eu sei que fui,
sei que sou mais fria que quente, mas consegui dar a ti, dar-me a ti, digo.
Lua, será que algum dia serei de ti? Dona de um mundo por
nós, efeito? Lua, minha Lua, pousa-te sobre mim e deixa-te derreter em água e
quem sabe ser somas de vento um dia, por causa de tanto ar quente que de mim
recebeste. Sim eu estou cálida, hoje sou, hoje consegui, já te o disse, não te
minto.
Se eu pudesse tentaria; Aí! Eu juro que tentaria, neles,
nelas, na erva, no Sol…oh, no ar, respirar…mas é em ti que me descubro.
Autocarros em andamento, cheiros intensos: gasolina. Lápis a
escrever e entre colapsos de visões, minhas, a bater contra o vidro encharcado,
rádio a tocar, vozes a entoar, a entoar, a entoar…letras, palavras, pensar,
Lua.
Vi. Se vi. Enquanto o motorista provocava o aceleramento e
eu, nós, sentíamos os paralelos da rua lá fora e o cheiro dos pneus, já a
corroer-se, por nós entrava. Vi. Se vi. Crianças a dançar e a bailar no ritmo
das folhas outonais que as sobrevoavam, animais a pastar, ah! Mais à frente, um
cavalo, só, campo, verde em falta, sem erva, só, a pastar, igual a todos os
outros, eternizado num passado esquecido. Vi. Se vi. Pessoas a vender a carne
que compraram no talhante, o próximo, os preços, baixos por sinal; As
peixeiras, os gritos, o ignorar e o chamamento, o chamamento e o ignorar. As
vozes, o entoar, letras, palavras, pensar, Lua.
E no momento em que as minhas pálpebras quase se
enterneciam, quase quebravam na ida para um sono mais fundo, dei de caras com o
mar. Aí o mar! As ondas, o ritmo, o calafrio esquentado, queria lá estar, o
ritmo, as ondas, estou lá.
Lua, tu que Lua, és Lutante. E os olhos fecham-se. E eu sou
pequenina. E o mundo apagou-se, por um minuto, por duas horas, por um ano…quem
sabe, mas que sonhe, que sonhe muito, muito contigo.
Que és mais alma que muita alma em terra.