19.5.12

Voltei? - 3 parte

(continuação)
Ela era Anita, Anita a senhora que nunca passava por alguém na rua sem lhe fazer um gesto carinhoso, um gesto reconfortável ou mesmo um gesto que abrisse o sorriso de alguém por meros segundos, mas cercava-se de si um dia muito importante, e Anita, como em todos os dias, queria estar mais pacífica que uma tulipa: aquela que nada com o vento cada vez que este a remexe, deixando o vento contar os recantos da sua suavidade não permitindo que nestes se encontre frieza. Mas os seus passos zumbiam cada vez que se aproximava da porta, zumbiam de tanto ardor que expediam para o seu interior criando-lhe um forte formigueiro, mas ela querendo ser tulipa, batia com cada um dos pés no chão para o formigueiro que se fazia, desaparecer na instantaneidade do abalo.
 Aproximando-se então da porta, colocou as chaves, mas sentiu algo novo impedi-la, quebrando as suas últimas e reservadas forças, forçando-a a não se mexer, forçando os seus dedos a pararem; mas ela lutava contra essa pessoa frágil que por momentos se aproximava dela, ela lutava contra essa pessoa pensativa que queria fazer parte dela neste momento tão renovador, fazendo-a mudar de ideias. Mas ela lutava, certificando-se do que é de facto ficar sem folego, pois ela queria mudar o que era, mudar o que sentia, queria ser uma pessoa nova, alguém recentemente antigo, mas vivo. Julgam que é fácil, mas não é tão fácil assim, e segura-la ainda piorara a situação, pois as certezas do acabar se confirmaram e se ela percorrer esta estrada o acabar é opção mas não certeza. Ela não tem como fugir, por mais que queiramos que tenha, ela precisa e nós precisamos, ela sabe o risco mas não tem escolha nem por onde escapar, então livremente deixe-mo-lá voar, porque se o está a fazer é porque em algum lugar pensou que houvesse esperança, então tenhamos também.  
Finalmente abriu a porta e saiu para a rua. 

(continua)