16.11.11

"Abstratamente" sentimental.

Bom dia,
Como te sentes perante tal tempestade lá fora, estando tu, diante de uma lareira olhando a tempestade pela janela, quente e aconchegado? Eu digo que me sinto bem, ainda me sinto um pouco ensonada, mas com tal convicção de te escrever, depois de tantos anos, que me levantei atirei um jarro de água aos olhos, com a pressão da toalha limpei a cara deixando-a ainda um pouco vermelha, amarrei o cabelo calçando-me e vestindo um robe sentando-me em frente ao meu banco e colocando está folha em que te escrevo, num caballete, para me sentir como se estivesse a pintar-te, para ser-me tudo mais espontâneo, frontal e tal como a pintura o é, uma expressão de sentimentos sem mentiras. 
Ainda sinto o teu rosto encostado ao meu, acariciando e acalmando cada palavra apressada que deixava sair, acalmando-me e fazendo-me sorrir quando mais ninguém o conseguia fazer, ainda sinto o teu cheiro quando entro pela porta dentro depois de chegar das viagens, ainda oiço a tua voz chamar por mim, ainda sinto que me proteges quanto parto em aventura, ainda sinto que de entre todos os abraços que recebo, o teu sempre será o perfeito, o que necessito. Ainda hoje, quando me mostro forte e ninguém se apercebe que preciso de um, ninguém me o dá, mas tu davas, tu sabias, e hoje, necessito desse abraço.
Bem, hoje estou a escrever uma carta para ti, dez anos já passaram desde que fugiste de casa, mas estava a precisar de te escrever, e já vais perceber o motivo fortemente aparente que me o levou a fazer. Hoje...bem...admito que ainda não sei porque o fizeste, sei e não sei ao mesmo tempo. Sei que muitas vezes nós encontrávamos distantes, porque eu andava sempre fora, sempre em digressão por causa das minhas exposições, mas, sempre divulgamos um ao outro um amor incondicional, apesar de nunca te mentir, dizendo que poderia um dia te deixar pois amava mais o que fazia, mesmo te amando como nunca ninguém te amou, e eu...hoje já não sei bem se gostaste de mim, mas tu dizias-me que sim, desde a faculdade até aquele dia em que cheguei a casa, gritando, "Voltei! E, imagina só? Gostaram! Gostaram! Fui convidada para fazer mais um trabalho, mas agora, novas personagens para a Disney, nem sei bem como me sinto de tanta felicidade, não é bom? Mas desta vez vens comigo, pois posso ficar lá meses, ou anos...onde, onde, onde, onde...estás? Aqui? Aqui? O, não! Onde estás? Aparece por favor, preciso de ti...".
 E logo de seguida, encontro um bilhete, em cima da cama desfeita com o teu pijama em cima, com uma única frase, escrita, "Nunca te esquecerei, mas hoje, vou lutar por mim, tal como sempre o fiz, tal como sei que o farias, eu fiz, e como a luta nunca termina, e a continuação desta fazia com que eu tivesse de te deixar, deixei, amando-te para sempre." , por momentos, tentei chorar, tentei gritar, tentei ir atrás de ti, tentei (...) ficar tão cheia de dor, mas, fiz exactamente o contrário, fiquei ali estática, durante várias horas, depois andei de um lado para o outro, quase quebrando o chão de tanto o desgastar, esfriando os meus pés, corroendo o meu corpo, roendo as minhas unhas e pensando, pensando nas poucas palavras com tão grande significado, que me escreveste. De seguida, coloquei o papel no lixo, e sorri perante uma fotografia tua que tinha sempre junto a mim, dizendo com lágrimas nos olhos e com uma vontade imensa de trancar o coração diante do olhar de todos, "Se fores feliz, lembra-te que eu o serei e sempre fui, lembra-te que estarei sempre deste lado sorrindo para ti, e amando-te para sempre de igual forma, pois fizeste o que eu faria, deixaste-me por algo que amavas mais, o que fazias, portanto estou feliz por ti." corri até ao quarto, peguei numa folha, num lápis e comecei a desenhar, a desenhar tudo aquilo que tu eras, tudo aquilo que fizeste de mim, tudo aquilo que nós fomos, tudo aquilo que tu sempre irias ser e tudo aquilo que sempre iríamos construir a distância, desenhei até ao amanhecer.
Foi o maior desabafo que fiz na vida, admito-te, desenhei tudo o que me ia no coração, fosse bom ou mau, bonito ou feio, desenhei. Mas hoje, por causa deste desabafo, admito que estou muito melhor, sei, claro que sei que ainda te amo, mas, ensinaste me uma coisa muito importante, se se ama, amasse para sempre. 
Bem, ainda não terminei, quero terminar dizendo-te que está carta, não foi porque sim, escrevo-te-a porque quero te dizer, com todo o orgulho de mim, de ti e da nossa história, que o desenho que fiz, depois de muitos anos, passei-o para uma tela e hoje, hoje é um dos meus maiores sucessos mundiais, com o titulo de, "Abstratamente" sentimental. Já sei que o deves ter visto e admitindo que só tu o deves ter entendido como eu, decidi então escrever-te, mostrando-te que não é o tempo que envelhece dois corações amados, são os corações tristes que deixam envelhecer o tempo, portanto, nunca deixarei que o tempo envelheça, muito menos que esses dois corações que andam a deriva no tempo se percam um do outro. 
Sou, fui e serei, feliz, e tenho a certeza que tu, também o és, foste e serás.
 Termino dizendo que vou atirar está carta ao mar, dentro de uma garrafinha, para que um dia duas pessoas, que se encontrem junto a praia, a possam ler, e possam ver que amar não é estar prezo a essa pessoa não fazendo o que se gosta, é querer o bem do outro e o seu bem para além desse amor.