26.8.11

Para viajar basta existir


Hoje acordei eram cinco horas e meia e dei por mim a pensar na junção do nada com o tudo, o que que será que pode dar por vezes?
Um simples acordar fez com que me senta-se no escuro com os raios a bater no rosto, e o que desejei fazer na altura, foi adormecer de novo e sonhar.
Ela era uma menina que viajava sozinha, de mãos dadas com o céu, acariciava o vento e sussurrava as árvores. Corria com os animais e fazia cocegas as plantas. Sorria e cumprimentava os humanos, fazia novas amizades que no dia a seguir sabia que já não os veria, via arranha céus, era roubada nas grandes cidades, percorria campos imundos, viajava, viajava sem saber o que lhe esperava no dia de amanha.
Com um simples estalar de dedos conseguia estabilizar uma harmonia geral no mundo, digo isto porque não pensava em problemas, não via um único dia escuro nos seus olhos verdes. Viajava sem rumo, sem sentido, viaja com um sorriso no rosto, mudas de roupa, dinheiro e nada mais. O que lhe esperava todos os inícios de primeiros dias, era sorte, sorte para arranjar alguém que lhe desse um sitio para dormir, comer alguma coisa e de novo seguir viagem, sozinha a procura do que mais desejava, sem medos, pensando apenas no agora e que o depois? Isso era o que ela queria saber, se o depois ainda esperava por ela.  
Ouve momentos em que se sentiu só, que sentiu que não tinha quem queria a seu lado, mas por outro lado estava mais acompanhada que nunca, tinha tudo o que queria: Liberdade e o seu sonho a caminho de ser cumprido.
Durante anos, ninguém sabe ao certo a conta, lá andou ela, fazendo sempre o mesmo. Ouve dias em que teve sorte, mas ouve outros em que a rua, o frio, o medo, a esperavam. Ouve ainda alguns em que criou amizades seguras e que em muito a ajudaram, mas ouve outros dias que fugir a sete pés de uma ou de outra pessoa ainda foi pouco para o susto horrendo que apanhara.
Aprendeu muito, para além da luta segura que conquistará durante todos aqueles anos, aprendeu a dar o seu coração, a sua vida, a Deus. A por as mãos no fogo por ele, por ela, pelos que mais amava e tinha deixado e pelo seu sonho em principal. 

É algo inexprimível, inesquecível, inigualável, a experiência que ela vivera naquele tempo todo, que em alguns dias o tempo se tinha tornado escasso de mais e em outros dias se tinha tornado numa espera tormentosa. 
Ouve dias que pensava que iria morrer, que não deveria ter vindo nunca, que fora um erro, para além de, haver dias em que conquistará até corações, a nível de amor e outros a nível de amizade, por apenas um, dois dias, ou mesmo uma semana parada num sitio, é verdade, por isso ouve dias muito difíceis, dias em que obrigava uma lágrima a entrar de novo no seu olho e logo de manha deixava uma carta e desaparecia sem deixar rasto. Mas preferia esses dias do que os dias em que acordava com uma arma ou uma faca apontada a cabeça e lhe tiravam tudo, e de novo tinha de começar, mesmo estando perto o seu ponto de encontro com o seu destino.
Para além de na vida e na viagem desta rapariga ter acontecido muitas coisas, uma delas foi este dia que lhe tocou imenso. Numa das cidades próximas do sitio para onde viajara durante anos, adormecerá num dos bancos da cidade, e nesse dia tinha nevado, tinha nevado imenso.  
Acordará cheia de frio, com os lábios a estalar, com a mochila as costas mal conseguia abrir os olhos mas reparou num bilhete que estava a seu lado, um bilhete e um ramo de rosas vermelhas. 
O bilhete dizia: "Reparei em ti quando por ti passei está noite, estavas a tremer, corri com a minha filha para casa buscar um cobertor, quando cá cheguei tinhas adormecido, reparei nisso porque me aproximei de ti e para além de ver que eras muito bela reparei que ainda respiravas. Deitei o cobertor em cima de ti, mas como deves ter percebido esta cidade tem muitos mendigos e devem ter te roubado o cobertor, mas para que soubesses que por cá passei, deixei um bilhete e um ramo, algo que sei que não te roubarão. Não sei porque mas senti que eras uma pessoa que por muito já tinha passado, senti que viajas a muito tempo, senti que para além da tua beleza imensa, tinhas um coração enorme, por isso mesmo não te conhecendo de lado algum, fiz isto por ti.
Não te vou deixar o meu contacto, não te vou dizer quem sou, não te vou prender a está terra, segue o teu rumo, luta pelo teu sonho, luta por aquilo que nunca acabara na tua vida, tu és daquelas pessoas que nunca pensará de forma negativa, e quem sabe um dia, me encontres e me possas agradecer pelo que um dia, numa noite insignificante, te fiz. Eu espero encontrar-te e por me teres marcado desta forma, todas as noite de desejarei Boa Sorte.
Boa Sorte, não para o dia de amanha mas para o dia de hoje."  

Ela ficará estranha, não sabia o que fazer nem o que dizer, mas como tinha uma missão por cumprir, deitou o ramo ao lixo e guardou o bilhete para o qual todos os dias da sua vida olhou. Nunca esquecerá aquele momento. 
Depois de tudo e mais alguma coisa ter acontecido, depois de ver morte a frente dos seus olhos, depois de ter sido feliz também, depois de tudo, ela chegou ao ponto de encontro, ela tinha não terminado mas sim começado o que por muitos anos lutou.
E agora apenas vos digo uma coisa, nada acontece por acontecer e depois de tudo o que ela passara até chegar aquela cidade, ter o seu próprio dinheiro, uma estabilidade óptima, conseguir o seu sonho, realizar o seu sonho, nunca se realiza por completo mas parte dele já tinha realizado, depois disso tudo, depois de muitos anos de outra luta constante, num dos percursos para o norte do pais onde se encontrava, para mostrar a um basta digressão de pessoas uma das suas muitas exposições, alguém fixou o olhar nela e aproximou-se contando de novo aquela noite, quem é que ela lá encontrou? Ele. 
De repente acordei precipitada, suada, com lágrimas nos olhos.
Quando me pus a pensar no que tinha sonhado tive vagas memorias mas tive a certeza de que a maior parte das coisas, eram coisas que um dia queria realizar no meu futuro, não iguais mas comuns, queria, ainda quero, luto e lutarei.