Borboleta: leve, entre a leveza de si, leve, leve de si,
leve, deixou-se-me chegar a si, leve, deixou.
Por mim ela passou, e em mim ela ressoou, ressoou na
altitude longínqua que se deixa atravessar no sol da manha e comigo, comigo ela
soou, ela soou dígitos de vida porque em mim o branco depositou, o branco puro,
aquele que dirige a liberdade: a que tanto enciúma o meu olhar e inveja os meus
ouvidos, fazendo-me fascina-la, mais que o próprio vento, apenas pelo seu
cheiro, aquele cheiro que atravessa o perfume das rígidas montanhas e a sensibilidade
de uns pés desolados pelo verde imundo e extrapesados com odores goteados de
longas viagens.
Deixei então. Deixei que aquela cor branca, de tão branca que
se esculpia, redigisse em meu caminho aquele branco que é mais neblina e lixívia que o branco do olhar que tanto me fascina, lá, no longe que tanto
desejo, que tanto desejo não desejar.
Por fim pedi a
borboleta que a mim deixa-se para a ti chegar e em ti tocar, porque atina com
as minhas expressões letreadas, Universo: contudo, é em ti que reconheço o meu
mundo resguardado; é em ti que mostro a resolução de que disto, de que existo;
é contigo que quero admirar as sensações; é bem perto, do teu escuro que
brilha, é bem perto que quero mostrar que em minhas palavras não habita suidade
e é contigo que quero chorar invernos, sorrir verões, abraçar outonos e dar
beijos primaveris.
Deixa como eu deixei. Deixa que a borboleta empalideça a tua
alma e que o seu branco tinja o ofegante rubro do teu coração.