13.7.12

A nossa tela inacabada


Assim como eu sou, espero um dia ver-te ser.
Múltiplos tubos de tinta, mil maneiras de se pincelar, cem formas de se externar o não visto e dez ambientes para se demonstrar. Deixando a minha alma embater com ocasiões inesperadas, deixei que a tinta fosse externada da maneira mais penosa, no lugar mais bizarro, pincelada de uma forma, até então, desconhecida e com apenas um tubo de tinta, o escolhido.
Não, não me suspeites, porque eu sou-te, consinto, continuo a ser aquele ser que se desconhece mais a si do que a ti, sim, continuo a ser, mas não temas porque sempre te serei, com todas as minhas complexidades descomunais, admito que sou-te. Porque sabes? Ainda que a minha alma não seja maribunda para as manifestações de apelo ao desconcerto causado pela tua presença no relógio da minha vida, continuo a ser aquele ser que quer melindrar-te ao ponto de te conseguir tornar no tubo de tinta eleito, mas melindrar-te em segredo: como se tu fosses a cor, eu o pincel e a tela inacabada a nossa história, porque em ti, o relógio concertasse, cada vez que a tinta ressoa tonalidade, exala camadas de relevo e me permite, através da vivacidade das suas cores, cheirar a ti. 
Deixa-te então, eu deixei.
Deixa-te seguir o ritmo das minhas pinceladas e deixa que elas mexam com a textura da tua cor e com os escuros dos teus claros, fazendo-os expor o seu brilho natural, até então oculto.
Eu deixei para poder deixar-te.
Deixei que o brilho pouco solar da lua incorpora-se o meu ser. Deixei.
Deixei para que o meu rumo rema-se no azul pouco cristalino da tua maré, céu.
Deixa-te. Deixa-te a mim abrir.
Deixa-te. Deixa-te ser eu, porque tu, tu já sou eu.