21.6.12

Voltei? - 6 Parte


(continuação)
A falta de palavras, a falta de frases enquadradas nos sentidos de compaixão, a falta de carácter incumbido em sentimentos e a falta de pensamento no outro, já era um procedimento habitual nos médicos daquela altura, portanto ela recebera a notícia da pior maneira possível:
-Minha cara, as análises estão feitas e tal como eu mencionei na sua outra consulta, nada havia a fazer e de facto, nada há a fazer, só tem três dias, três dias de vida. Desculpe, mas com este tipo de cancros, a possibilidade de fazermos alguma coisa é impossível.
Agora. Agora. Agora. Acabou. Acabou. Acabou. O tempo para si tinha parado, ela não conseguia pensar, ela não conseguia ouvir a sua própria respiração, ela não conseguia ouvir as pessoas à sua volta, ela sentia-se só, pela primeira vez na vida. Pois sabem? Ajudar os outros é fácil, ajudar-se a si, quando nunca aprendido, quando nunca examinado, quando nunca buscado, é impossível.
O pânico então sublevou-se e apoderou-se dela, antecipando os três dias.

(Continua)