25.3.12

Recorda-me eternamente


Feito a 19 de Março de 2012


Hoje, querido contemplador da lua, mais uma data celebre a ti te diz respeito, hoje, estrela que percorre as ruas do céu, será mais um dia em que eu andarei a vaguear pelo mundo das almas perdidas sem saber se deva erguer os lábios até formar covas nas maças cor da rosa, do rosto, ou esconder o branco tingido que dentro deles se encontra.
Não, não a temas, olha esta data de frente, coloca-lhe cor como se ela fosse uma tela embebida por camadas de relevo, toca-lhe timidamente como se fosse a pele suavemente desejada, beija-a como se fosse o imperfeito rosto apaixonado, cheira-a como se fosse o vento primaveril que faz voar a nossa alma por entre as ervas, e suporta-a, suporta-a sobre as costas; amanhã tomas um banho quente e a dor foge em gritos mudos!
Admito que eu já tenho as costas sangrando de isto tanto chocar com os ossos saciados pela cede de cálcio, ossos esses que se escondem dentro desta minha pele forte que ultrapassa a fragilidade do tempo, e tu? Já a conseguiste suportar?
Após o pó ter-se entreposto ao meu olhar, obrigando-me a limpa-lo friamente do canto pupilar dos olhos, já consigo olhar de frente os múltiplos abraços que se erguem todos os dias por cumplicidade fraternal, os sorrisos de quem esconde atrás das costas um mistério por entregar, as lágrimas de quem a seu lado não tem, os sois que se põem todos os dias para as almas que por aqui não voam, as manhãs sem a palavra reconfortante, o papel fotográfico descolorado pela metade da separação; já consigo suportar, não diria os sismos que dentro de mim ainda se criam, consolando e alimentando o desejo de te ver, de te ter, mas antes as lendas que na caverna se ocultam, em tua doce memória.
Deixando as palavras se desencontrarem com o meu tempo, deixando-as então por dizer, por fazer, por sentir...Olho a parede à minha frente, que não esconde a natureza morta encontrada atrás de mim, deixando-me ansiar a tua presença entre ela vindo em passos lentamente presos surpreender-me pelas costas, mas por mais que eu a anseie, a impossibilidade da tua presença é maior.
Continuo olhando o reflexo na parede, com os olhos goteados de água de vidro, mas o vidro quebrou-se, não te vejo...