Era, era lá, era lá que eu era.
Cada vez que o meu olhar se acerca mais daquela linha do
horizonte que parece deixar em si própria fervilhar um sobejo de episódios que
a minha memoria se rememora - essa linha inexistente, mas existente para os
olhares que deixam em si se apoderar a amargura e a impenetrabilidade em vice -
deixa que em si a minha vivencia desde que brotei à luz do sol, seja uma
imensidão de episódios que a toda a velocidade passam em frente aos meus olhos
fazendo com que, por fora me comporte firmemente, mas por dentro heteroclitamente
esteja a querer sucumbir-me ao visto.
Ali estou eu, olhando em frente o que o horizonte patenteia,
sem mexer um único musculo, com os dentes a tremer, mas de boca fechada, com os
dedos quase quebrados, mas firmes assentando os bolsos das minhas calças, com
as pupilas dos olhos tremendo, tremendo de tal forma que o brilho que nelas se
reflete é o único a não dar a impressão de querer esconder o oculto. O ser que
habita em mim, o ser que eu desconheço, aquele ser que eu sei tão pouco, bem,
os meus olhos são os únicos que o denunciam a toda a hora, pena que eu não os
esteja a fintar nessa hora toda.
Observando-o acanhada, sentia-me metafórica. A natureza a
sua volta, de facto, mostrava-se superior ao natural; o vento suavemente
sobrevoava o céu deixando um ruido escapar para os meus ouvidos, um ruido
desconfortavelmente confortável, que fez o meu cabelo flutuar nas margens das
cores sibilantes das flores, o meu corpo envolver-se na essência do seu perfume
natural, que por si só, fez-me sentir bem durante um certo tempo. A erva que
dançava delicadamente ao som do vento fazia os meus vastos olhos sentir-se espicaçados
por um frio estridente e a pele dos meus braços e pernas, que se encontrava descoberta,
sentiu-se tão irritada e com os pelos tão sublevados que por momentos pensei
que estava a ser carneamente devorada.
Era assim que me sentia, em tons de leveza violenta; sentia-me
assim porque o horizonte que os meus olhos obstinavam a não descalçar o olhar
dele, era como um filme revelador do passado, por ele passava infindáveis imagens
alegóricas em que a alacridade estava presente, o afeto era intenso, a benevolência
delicada era como uma lâmpada sem tempo e a penetrante compaixão pelo tempo
todo para todo o momento era a vivência ocasional.
Agora, estando perante um passado cobiço, sinto a
necessidade de abraçar aquele horizonte e sentir-me afavelmente escudada por
ele, porque anteriormente ao início não sabia o que sei no fim. Ele, o
horizonte, apenas me quis mostrar que eu ainda não estava restringida de
persentir a saudade.