25.2.12

Sentir não é fácil


Era, era lá, era lá que eu era.
Cada vez que o meu olhar se acerca mais daquela linha do horizonte que parece deixar em si própria fervilhar um sobejo de episódios que a minha memoria se rememora - essa linha inexistente, mas existente para os olhares que deixam em si se apoderar a amargura e a impenetrabilidade em vice - deixa que em si a minha vivencia desde que brotei à luz do sol, seja uma imensidão de episódios que a toda a velocidade passam em frente aos meus olhos fazendo com que, por fora me comporte firmemente, mas por dentro heteroclitamente esteja a querer sucumbir-me ao visto.
Ali estou eu, olhando em frente o que o horizonte patenteia, sem mexer um único musculo, com os dentes a tremer, mas de boca fechada, com os dedos quase quebrados, mas firmes assentando os bolsos das minhas calças, com as pupilas dos olhos tremendo, tremendo de tal forma que o brilho que nelas se reflete é o único a não dar a impressão de querer esconder o oculto. O ser que habita em mim, o ser que eu desconheço, aquele ser que eu sei tão pouco, bem, os meus olhos são os únicos que o denunciam a toda a hora, pena que eu não os esteja a fintar nessa hora toda.
Observando-o acanhada, sentia-me metafórica. A natureza a sua volta, de facto, mostrava-se superior ao natural; o vento suavemente sobrevoava o céu deixando um ruido escapar para os meus ouvidos, um ruido desconfortavelmente confortável, que fez o meu cabelo flutuar nas margens das cores sibilantes das flores, o meu corpo envolver-se na essência do seu perfume natural, que por si só, fez-me sentir bem durante um certo tempo. A erva que dançava delicadamente ao som do vento fazia os meus vastos olhos sentir-se espicaçados por um frio estridente e a pele dos meus braços e pernas, que se encontrava descoberta, sentiu-se tão irritada e com os pelos tão sublevados que por momentos pensei que estava a ser carneamente devorada.
Era assim que me sentia, em tons de leveza violenta; sentia-me assim porque o horizonte que os meus olhos obstinavam a não descalçar o olhar dele, era como um filme revelador do passado, por ele passava infindáveis imagens alegóricas em que a alacridade estava presente, o afeto era intenso, a benevolência delicada era como uma lâmpada sem tempo e a penetrante compaixão pelo tempo todo para todo o momento era a vivência ocasional.   
Agora, estando perante um passado cobiço, sinto a necessidade de abraçar aquele horizonte e sentir-me afavelmente escudada por ele, porque anteriormente ao início não sabia o que sei no fim. Ele, o horizonte, apenas me quis mostrar que eu ainda não estava restringida de persentir a saudade.